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No primeiro aniversário do MAIS, algumas reflexões

Por: Henrique Canary

No dia 23 de julho, o MAIS completa 1 ano de existência. E que ano foi esse! Parece que faz um século que reunimos cerca de 1200 pessoas no Clube Homs, em São Paulo, e lançamos a nova organização. Foi um dia inesquecível. Pela manhã e à tarde, 1º Encontro: definição da Carta de Princípios, direção e nome da nova organização (e como foi polêmica a discussão sobre o nome!). À noite, um ato emocionante, cheio de reencontros e confiança no futuro!

Não teria sido fácil lançar e colocar de pé uma nova organização socialista e revolucionária em qualquer caso. Mas foi mais complicado ainda nas condições em que o fizemos. Neste esforço, certamente, cometemos erros e acertos. O objetivo deste artigo é refletir um pouco sobre o caminho trilhado até aqui e colocar algumas questões ou hipóteses para o futuro.

As origens do MAIS
Como muitos sabem, o MAIS é fruto de um longo e complexo processo de discussão interna e, depois, de ruptura com o PSTU. Desde 2013, vieram se acumulando dentro de nossa antiga organização diferenças políticas que rapidamente se transferiram para o terreno da teoria e do programa, até um ponto em que a convivência dentro de um mesmo partido se tornou impossível. Não pretendemos aqui revisitar aquele debate. Talvez valha a pena, algum dia, publicar tudo o que escrevemos ao longo de quase um ano de luta. Ao todo, foram 75 Boletins de Discussão Interna. A Tendência Internacional, agrupamento que formamos para defender nossas posições, produziu quase metade disso, cerca de 200 páginas… dezenas de plenárias, inúmeras reuniões nacionais, regionais e também algumas internacionais para organizar o combate. Uma luta política duríssima, que travamos aberta e honradamente, e que marcou para sempre aqueles que dela participaram.

O turbulento ano que passou
Logo que saímos do PSTU, encaramos muitos desafios: uma situação política extremamente complexa, um governo de colaboração de classes sendo derrubado pelo que existe de pior no país, uma situação defensiva do movimento de massas, um ataque burguês sem precedentes contra direitos históricos da classe trabalhadora, uma situação internacional também pouco promissora. Além disso, ainda éramos parte da LIT (Liga Internacional dos Trabalhadores) e nossas relações com o PSTU estavam longe de serem resolvidas completamente.

Nos primeiros tempos, procuramos ser cuidadosos. Havíamos passado mais de um ano mergulhados no debate interno, afastados de muitas lutas e processos importantes. Era preciso primeiro conhecer, restabelecer laços, voltar a conversar com as correntes de esquerda, sentir o terreno. Mesmo assim, não deixamos de ser ousados. Pouco depois de nosso 1º Encontro Nacional, lançamos o Esquerda Online, um novo veículo de comunicação da esquerda radical, que busca não apenas informar e formar, mas também (até onde é possível) organizar e orientar os socialistas marxistas. Ao que tudo indica, apesar das debilidades, este tem sido um projeto vitorioso, que deve e precisa ser fortalecido ainda mais, pois está longe de demonstrar todo o seu potencial.

No terreno político, a necessidade de produzir editoriais diários sobre uma conjuntura extremamente complexa certamente nos induziu a erros. A falha de hoje era corrigida no editorial do dia seguinte. Não nos envergonhamos. Nunca pretendemos ser infalíveis. Mas de modo geral, creio que encontramos o difícil equilíbrio entre a necessidade de unificar todas as forças dispostas a combater os ataques do novo governo e a necessária denúncia do que foram os 13 anos de gestão do PT. Não nos encantamos com a Lava-Jato, mas também não passamos atestado de inocência ao PT e seus dirigentes. Podemos nos orgulhar do fato de que estivemos presentes em todos os combates da classe trabalhadora que nos foi possível estar. Não recusamos nenhum espaço, não rejeitamos nenhuma unidade de classe. Mas também não abrimos mão de defender nossas ideias e nosso programa.

No terreno da organização interna, os desafios não eram menores. Por um lado, devíamos manter a necessária centralização política, típica do partido de combate que almejamos ser. Por outro lado, era preciso rejeitar categoricamente o centralismo burocrático, sufocante, que inibe o debate e as críticas, que educa soldados obedientes, e não rebeldes. Era preciso tornar a organização mais transparente, criar mais e melhores mecanismos de controle da base sobre a direção, mas sem se tornar um movimento frouxo, inorgânico ou horizontal. Em uma palavra, era preciso voltar ao verdadeiro leninismo.

A ruptura no terreno nacional com o PSTU foi completada, no início deste ano, pela a ruptura no terreno internacional com a LIT. Novamente, um desafio e um perigo: romper com um centro internacional cuja política, teoria e programa nos pareciam inaceitáveis, mas sem cair no nacionalismo reducionista e estreito. Arriscamos, porque era preciso. Hoje, estamos dando os primeiros passos de um novo projeto internacional, estabelecendo relações políticas formais com o MAS (Movimento de Alternativa Socialista) de Portugal, e começando uma série de debates e trocas de materiais com vistas a conhecer melhor outras correntes e organizações internacionais.

No terreno que tanto valorizávamos desde o nosso surgimento, o da unidade estratégica com outras correntes marxistas revolucionárias, houve também alguns avanços. Desde nosso surgimento como organização independente, três grupos regionais se uniram ao nosso projeto: A Tendência Leninista, de Pernambuco, o Coletivo Nada Será como Antes, de Niterói, e um grupo de companheiros de Franca. Essas adesões não significaram um salto qualitativo da organização, mas indicam que, de alguma forma, soubemos estabelecer um diálogo com setores que buscam uma alternativa política. Além disso, trata-se de quadros muitos importantes, alguns com larga trajetória no movimento de massas, e que expressam experiências distintas, cada uma rica à sua maneira. Ainda no terreno da reorganização dos socialistas marxistas, o ano que passou nos brindou com um processo que tem nos ensinado muito: o Comitê de Enlace com a Nova Organização Socialista (NOS). Até agora, os debates realizados demonstram que existem bases sólidas para uma fusão. E estamos apostando muito nisso. Mas mesmo que cheguemos a esse final feliz, sabemos que somos (MAIS e NOS juntos) apenas uma pequena fração das forças socialistas revolucionárias brasileiras. O caminho para a superação da fragmentação é longo e difícil. Demandará ousadia e paciência, mas também firmeza e solidez programática.

É claro que cometemos erros e não fizemos tudo que era preciso fazer no tempo que era preciso. Apenas começamos a discutir um projeto sindical de longo prazo. É algo urgente, dada a complicada situação do movimento sindical brasileiro e a necessidade de intervir com força aí. “Voltamos” agora para a UNE, da qual havíamos nos afastado em 2004-2005. Estamos, por isso, atrasados neste terreno, mas recuperando o ritmo lentamente e com segurança. Embora nossa agitação tenha melhorado muito com o Esquerda Online, nossa propaganda e nossa formação marxista interna se encontram hoje secundarizadas, o que precisa ser revertido o mais rápido possível. Muitas vezes, sucumbimos ao ritmo frenético do movimento, e deixamos de lado importantes questões internas e organizativas. Não temos ainda um programa completo. Começamos uma discussão programática que deve resultar na adoção de um primeiro texto em nosso 1º Congresso. Mas não será um texto definitivo. Principalmente as questões relativas à luta contra as opressões e à organização interna permanecerão em aberto e deverão ser resolvidas somente no próximo congresso. É uma debilidade. Não damos conta de tudo.

O futuro que desejamos
Quando fundamos o MAIS, não pensávamos que esta seria nossa organização “final”, “definitiva”. Não achávamos que ela cresceria linear e indefinidamente até se tornar um grande e poderoso partido auto-suficiente, erguido sobre si mesmo. Não. Queríamos que o MAIS fosse uma organização transitória e até mesmo provisória. Já naquela época desejávamos que o MAIS fosse superado, que se integrasse a um projeto maior. Neste aniversário de 1 ano, é preciso resgatar esse projeto. Desejar a superação do MAIS é ser fiel ao espírito que lhe deu origem. Aliás, creio que isso já está acontecendo hoje. Da fusão entre o MAIS e a NOS deve surgir uma nova organização que já não será nem uma nem outra, mas terá um pouco das duas.

Mas isso ainda é pouco. Não queremos ser mais um grupo, apenas um pouco maior do que os outros grupos. Não queremos apenas mudar de nome. Queremos construir uma verdadeira organização revolucionária. Queremos atrair e organizar pessoas. Porque não bastam boas ideias ou boas intenções. É preciso uma organização para colocá-las em prática. Por isso, queremos que ingressem em nossas fileiras os socialistas marxistas desiludidos com o PT, que são o melhor que a classe trabalhadora brasileira já produziu, e que hoje se encontram dispersos e desorganizados, mas cuja experiência é insubstituível. Que se juntem a nós os combatentes das batalhas que a classe trabalhadora tem travado tão heroicamente no último período. Que se somem à nossa organização as feministas, as lutadoras e os lutadores do movimento negro e LGBT que sabem que, sem uma revolução socialista vitoriosa, nenhuma opressão pode ser definitivamente extinta. Que se organizem conosco a juventude, os ativistas do movimento popular, os intelectuais comprometidos com a causa socialista, os líderes operários, os dirigentes que constroem um movimento sindical não apenas combativo, mas também democrático, as trabalhadoras e os trabalhadores de todas as categorias, do campo e da cidade.

Evidentemente, serão bem-vindos aos nossos espaços todos os amigos que, por qualquer razão, não queiram assumir um compromisso militante. Estaremos lado a lado. Mas nós mesmos, por nossa natureza e pelo projeto a que nos propomos, somos um partido de militantes: construído por militantes, sustentado por militantes, controlado por militantes. Evidentemente, a militância revolucionária implica algum grau de compromisso e entrega. Mas como dizia o velho revolucionário Leon Trotski, ela nos dá em troca a maior felicidade: a consciência de que participamos da construção de algo muito maior do que nós mesmos, de que carregamos sobre nossos ombros uma pequena partícula do destino da humanidade.

Há um ano atrás, dissemos em nosso manifesto de lançamento: “é preciso arrancar alegria ao futuro!”. Mas relendo hoje esse belo poema, encontro novos versos, que eu não havia notado então:

Por enquanto,
há escória de sobra.
O tempo é escasso,
mãos à obra.

Primeiro,
é preciso transformar a vida,
para cantá-la em seguida.

Os tempos são duros
para o artista.

Mas dizei-me,
anêmicos e minúsculos:
os grandes,
quando e onde
escolheram
uma estrada batida?

Não há nada a acrescentar às palavras de Maiakovski. Elas expressam perfeitamente o sentido da tarefa que nos colocamos no dia 23 de julho de 2016. Há um ano atrás, falávamos de futuro. Chegou a hora de falar do presente: mãos à obra!

Para visitar
Manifesto Alegria ao Futuro, que deu origem ao MAIS
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